sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Encontro em Mato Grosso mostra que artesanato pode ser um bom

11.11.2009 | 12:26
Artesãos

Mais de 300 artesãos de todo o Estado reuniram-se em Cuiabá nesta terça-feira (10) para constatar que o artesanato, mais do
que meio de subsistência, pode tornar-se um bom e lucrativo negócio
Jairo Pitolé Sant’Ana
Para o artesanato ser um negócio, e não apenas um meio de subsistência, é preciso inserir no cotidiano dos artesãos alguns
comportamentos, como eficiência produtiva, visão de futuro, sustentabilidade, inovação e responsabilidade social. A opinião é
do designer, coordenador do Prêmio Top 100 do Artesanato Brasileiro e consultor do Sebrae, Eduardo Barroso. Ele esteve em
Cuiabá como palestrante (com o tema Desafios competitivos para o artesanato brasileiro) do Seminário Artesanato como
Negócio, ocorrido nesta terça-feira (10), no Centro de Eventos do Pantanal.
"O artesão, além de estar vinculado a sua cultura, precisa trabalhar com técnicas e processos que permitam aumentar a
produção, melhorar a qualidade e, ao mesmo tempo, preservar suas referências e sua história", argumenta. Para Barroso, a
constante renovação do portfólio do artesão e visão de futuro são outros grandes desafios para tornar o artesanato
competitivo.
"Se não houver inovação, a peça pode ficar obsoleta, pois o bombardeio de informações cria no consumidor novas
expectativas, gerando novos gostos e preferências a cada estação. O ciclo de vida do produto está cada vez mais curto",
afirma, alertando que não se pode permitir a falta de planejamento da produção e do próprio crescimento. Para ele, um plano
de negócios é fundamental.
Trabalhar com matéria-prima não tóxica e certificada, compartilhar conhecimento com a mão-de-obra empregada e
proporcionar boas condições no espaço de trabalho são outros comportamentos necessários. "Não se pode esperar produto
de qualidade, onde não há qualidade na produção",afirma.
Solidariedade – "Tu me ensina a fazer renda, que eu te ensino a namorar". Para o artista plástico e doutor em Artes
Plásticas pela Sorbonne (Paris), José Alberto Nemer, que falou sobre os desafios da aproximação entre o artesão e o
designer, "o velho baião explica bem como este relacionamento deve ser".
"Deve ser um encontro de interesse mútuo, retro-alimentador. Cabe ao designer entender a produção artesanal como a
materialização de um complexo patrimônio cultural. Ter a consciência de que ao interferir no objeto interfere na mão, na
pessoa que o faz. E, por extensão, na comunidade e na cultura que o originou", continua.
Para Nemer, a aproximação pode ser mais fácil, quando o designer não trabalha apenas com a produção artesanal de uma
comunidade, mas conhece sua história, culinária, música e tradição. "O resultado pode ser a oxigenação do universo
artesanal, evitando sua estagnação e estimulando a organização solidária, com a criação de associações ou cooperativas, por
exemplo. Esta organização permite a aquisição de matérias-primas mais baratas, que se assumam compromissos com
encomendas ou mais agilidades para tratar de questões burocráticas. Solidariedade é fator de sucesso", afirma.
Prova de interesse
Os 300 artesãos que lotaram o Auditório dos Pássaros, no piso do Sol do Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, vieram
de 21 municípios mato-grossenses, alguns deles distantes, como Vila Rica, na divisa com Pará, a 1.260 km de Cuiabá, dos
quais cerca de 400 km sem asfalto.
Uma das representantes da região, Elaine Pfaizer Goulart Haab, viajou dois dias ao lado de outras 40 mulheres para participar
do seminário. Aproveitou para trocar impressões sobre a oficina que participaram em São Félix do Araguaia, onde conheceram
a diferença entre artesanato e trabalho manual – o primeiro é transformado, enquanto o segundo é montado.
"Apesar de não saber a diferença, já estava fazendo artesanato", diz Elaine, que ao lado de outras artesãs, está trabalhando
com motivos da região como peixes, aves (araras vermelhas) e o ipê amarelo. Os textos bordados em panos de prato foram
doados por poetas regionais, entre eles D. Pedro Casaldáliga, ex-bispo de São Félix e que ainda reside por lá.
O seminário, promovido pelo Sebrae/MT, em parceria com o Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Indústria,
Comércio, Minas e Energia (Sicme), reuniu ainda dois casos de sucesso do artesanato local.
Oswaldo Gimenes Greco, 72 anos, das Velas Osvaldo, e Sandra Carvalho, que expõe suas peças semanalmente na Feira do
Artesanato de Cuiabá, apresentaram suas histórias.
Após fechar a oficina de eletrônica –"porque não se conserta mais nada" – seu Osvaldo resolveu buscar uma
alternativa. A filha pagou o curso e hoje ele é o principal produtor e fornecedor de velas decorativas de Cuiabá, além de vender
para Goiânia, Belém do Pará, Vilhena (RO) e interior de Minas Gerais. Até o Natal, Osvaldo inaugura uma nova e ampla loja
na região central da capital do Estado. Começou comprando cinco quilos de parafina e hoje compra duas toneladas da
matéria-prima utilizadas para fabricar milhares de velas – só do modelo mais simples, vende entre duas e três mil
unidades por semana.
Dona Sandra Carvalho, que produz desde pequenos chaveiros a porta-gravatas, com capacidade para 12 unidades, num total
de 27 itens, começou como núcleo de produção familiar. "Como são peças muito diferentes e de tamanhos variados, é
impossível quantificar a produção. Mas de uma coisa tenho certeza, quando comparo a produção atual com a inicial, tenho até
vergonha do passado", diz, revelando o segredo do seu sucesso: "Coloque-se sempre no lugar do outro; aprimore-se
constantemente lembrando que sempre há o que aprender".

Serviço:
Sebrae/MT – 0800-570-0800
www.mt.sebrae.com.br
www.velasosvaldo.com.br

Divulgação

Mesa Bruto, de Bruno Temer, em exposição de Salão de Design e Inovação, no Centro de Eventos do Pantanal

http://asn.interjornal.com.br/noticia.kmf?noticia=9146057&canal=201

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